quinta-feira, 4 de março de 2010

Ecos de uma sociedade libertária

Bons argumentos devem ser bem analisados, refletidos e, principalmente, reproduzidos. Encontrei no periódico "Idéias em destaque", do Instituto Histórico-Cultural da Aeronáutica, um excelente artigo de autoria do jornalísta Otacílio Lage, articulista do jornal Estado de Minas, sob o título acima, que trata de um assunto bastante polêmico: a questão da educação infantil. Não aquela das escolas, mas a do lar, que tem causado efeitos perigosos na vida de todas as pessoas, e que deve nos levar a uma reflexão constante.
Transcrevo a seguir, trechos desse excelente texto.
" Boa parte dos estudiosos em educação afirma que o mundo de amanhã será o reflexo das crianças de hoje. Em parte, pode ser, mas também é verdade que muitas delas são mal-educadas (não tiveram ou não têm uma boa escola) ou até mesmo abandonadas à própria sorte.
Certo é, ainda, que a sociedade vem perdendo os valores morais que devem sustentar as relações entre os indivíduos que a compõem. As causas dessa perda são muitas: a principal é o excesso de materialismo, que reforça o egoísmo – cada um por si, menos para o bem-estar alheio. O que se vê é o abandono das noções de disciplina, respeito e disposição de servir, explicitamente ausentes do comportamento das pessoas, preocupadas mais com direitos do que com deveres.
A maioria das crianças, hoje, esbanja indisciplina, que se traduz geralmente pela desordem, desatenção, agitação, impaciência e desobediência. Os pais estão deixando passar a fase da tenra idade para inculcar na criança o censo de disciplina, não pelo autoritarismo – a pedagogia dos fracos –, mas por meio de demonstração das vantagens pessoais e coletivas que se podem colher de um comportamento que inclua as qualidades opostas à indisciplina (ordem, atenção, calma, paciência e obediência). A tarefa não é fácil, mas passível de ser realizada, especialmente com a criança com idade entre 2 e 6 anos.
Os pais devem sempre lembrar que tiveram filhos para o mundo e não para si. Dentro dos lares, se eles os deixam fazer o que bem entendem – o liberalismo excessivo conduz, irremediavelmente, à anarquia e, por extensão, à degeneração dos costumes –, cá fora, no mundo real, não é bem assim; as ruas são intolerantes e punitivas, não afagam quem transgride a legalidade. Crianças, adolescentes e jovens, hoje, de um modo geral, estão extremamente indisciplinados e desrespeitadores, tanto em relação a bens materiais quanto a pessoas: o meio ambiente sofre e a polidez sumiu de sua preocupação cotidiana. Expressões como bom-dia, até logo, com licença e obrigado estão relegadas ao limbo. Poucos se oferecem para ajudar, tanto os pais quanto outras pessoas à sua volta. A facilidade e a preguiça passaram a
ser parceiras de muitos deles, dois itens que o mundo real não oferece ou tolera. Não se pode confundir passatempos, brincadeiras e lazer com lassidão e ócio. Essas observações podem parecer duras com eles. Na verdade, são vítimas da educação que receberam ou recebem."
 " A sociedade, hoje, torna a educação mais difícil em comparação à do passado. As crianças são submetidas a toda sorte de pressões e ataques constantes de um mundo virtualizado e imediato, do agora, para ontem. Por motivos profissionais, muitos pais passam boa parte do tempo ausentes do convívio dos filhos." "A ausência da mãe leva muitas crianças a apresentar comportamento exacerbado, geralmente destinado a chamar a atenção para elas."
"Na alvorada do declínio da antiga civilização grega, Platão (428-348 a.C.) advertiu: “Quando os pais se habituam a deixar que os filhos façam tudo que quiserem; quando os filhos não mais prestam atenção às suas palavras; quando os professores tremem diante dos alunos e optam por lhes adular; quando os jovens desrespeitam as leis porque não reconhecem mais a autoridade de qualquer coisa ou qualquer indivíduo acima deles; então, em toda a sua beleza e vigor, eis o começo da tirania”. O grande filósofo, discípulo de Sócrates e professor de Aristóteles, fez a advertência há 24 séculos. Pura verdade para os atuais, inseguros e conturbados dias de uma sociedade cada vez mais libertária, guiada por timoneiros dúbios e por bússolas sem norte."
Id. em Dest., Rio de Janeiro, (31) : 83-85, set/dez. 2009

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